quarta-feira, 20 de agosto de 2008

QUANTO VALE A SUA ARTE?


Ilustração em grafite, Lance, Coletivo Aquilombando.

Seguindo o raciocínio do texto anterior sobre “artivismo”, gostaria de falar sobre uma parada que ainda causa polêmica no hip hop: quanto vale a nossa arte? Quanto receber pela nossa arte? Devemos cobrar pelas paradas que criamos? Que valor devemos dar as nossas produções artísticas?

Quem nunca tirou do próprio bolso pra cantar em um baile ou festa de rap? Quem nunca caiu de buzão lá da quebrada pra animar uma festa com passos frenéticos de break? Quem nunca ficou na lona pra pintar um muro e poder mostrar o talento com as latas de tinta?

Irmãos, se nos assumimos enquanto artistas populares, devemos também ter a noção de que, assim como qualquer outro músico, artista plástico ou dançarino, a nossa arte tem um custo. Riscar uma parede e preencher o vazio de um muro com grafites tem um custo. O spray não é barato. Cada lata custa de R$ 10,00 a R$ 15,00. Imagine que para riscar uma parede com seis metros, um mano ou mina precisará de no mínimo umas dez latas. Façam as contas e vejam se não é um custo fora de algumas realidades.

Para produzir uma base instrumental em frente a um computador, pick ups ou com uma mpc, um mano gasta tempo e energia elétrica. Embora a produção musical tenha ficado mais acessível hoje em dia, a grande maioria não tem computador ou pick ups e acabam dependendo de outros produtores e dj’s. Dependendo da região, uma única base instrumental pode variar de R$ 100,00 a R$ 400,00. Depois disso, ainda existe o gasto de tempo, energia e outros recursos para finalmente gravar a voz, outros instrumentos se for o caso, mixar e masterizar a música.

O mc quando está em carreira solo, escreve geralmente três estrofes para uma música. Já imaginaram a quantidade de palavras para uma única canção. Tem “artistas” que escrevem dez linhas e são aclamados. Guardadas as devidas proporções e estilos, se o rapper escrever bem, não deve em nada pra outros compositores de outros estilos. Já cansei de ser abordado por maninhos de outras áreas que frequentemente duvidavam se eu realmente havia escrito aquela letra. Como se não fosse possível aquele neguinho ter escrito aquele conteúdo inteligente, complexo, comprometido e criativo. Fora o exercício intelectual de sentar pra escrever, ainda temos que ensair com o grupo ou banda para deixar a música apresentável.

Os b. boys e b. girls ralam muito no asfalto para aprenderem, ensaiarem e aperfeiçoarem os movimentos. Existem crews de break que ensaiam mais de 4 horas por dia. Isso porque, a grande maioria tem outro trampo e ainda não conseguem sobreviver da sua arte. Do contrário, ensaiariam muito mais tempo.

Geral, qualquer produção tem um custo. Toda vez que tem alguma comemoração ou evento em nossa cidade, quando lembram de convidar os “malucos do hip hop” para participar, o quesito remuneração quase sempre passa batido. Não que a vitrine em um evento não seja importante. Na minha opinião esse é um degral fundamental na vida do artista. E nem estou dizendo que temos que começar a capitalizar nas periferias. São pesos e medidas diferentes, o que é do gueto é do gueto irmão. Temos que entender e discernir isso. Me refiro ao desenvolvimento da consciência de recompensa do artista. Nossos produtores de eventos dentro do hip hop precisam adquirir essa consciência. Os produtores e organizadores de outros meios também precisam. E todos nós ligados ao hip hop, seja cantando, grafitando, dançando ou discotecando, necessitamos dessa consciência,
bem como torna-la uma prática cotidiana.

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